Artesanato do Maranhão

Destaques

Babaçu

Paula Porta

A palmeira do babaçu, dentre a extensa variedade de palmeiras que marcam a paisagem maranhense, é a mais frequente e espraiada por seu território. São muitas as matas nativas, chamadas de cocais ou matas de coco.

O estado é o maior produtor de babaçu e seus derivados.

Babaçu é a denominação mais comum, mas são diversos os nomes usados para se referir a essa palmeira: pindova, pindoba, coco manso, capoteira, palmiteira, coqueira, coco babaçu, coco de macaco, coco de palmeira, coco de rosário, coco pindoba, curuá... Alguns desses nomes referem-se a etapas do desenvolvimento da planta, mas isso nem sempre é observado à risca e um ou outro termo pode ser utilizado indistintamente.

Dessa forma, pindoba ou pindova seria o nome da palmeira na sua “infância”, quando ainda não produziu frutos, mas já permite o uso das folhas. A palmiteira seria a planta “adolescente”, em altura que permite a extração do palmito (que fica no centro do topo) para alimentar o gado. A capoteira seria o estágio em que as folhas estão no tamanho para serem utilizadas na cobertura/ capota das casas. A palmeira adulta é chamada por alguns de curinga. Já o termo coco manso é o mais frequente para diferenciar a palmeira do babaçu da palmeira do anajá, que tem a folha grossa, mais difícil de trabalhar...

Uma palmeira leva de 10 a 20 anos para iniciar a produção de coco. 

O coco babaçu é a fonte de renda para inúmeras mulheres quebradeiras. Elas extraem o mesocarpo, utilizado para o produzir a farinha e outros derivados; as amêndoas (castanhas/ bagos/ caroços) de onde se extrai o azeite, usado na culinária e na indústria farmacêutica. As cascas são queimadas para produzir carvão, amplamente utilizado no estado. Após a prensagem da amêndoa para extração do óleo, os resíduos (borra ou bagaço) também são aproveitados como ração para animais ou como adubo. O coco pirinã é uma variedade menor, com amêndoas mais finas.

A presença extensiva da palmeira do babaçu na paisagem maranhense faz dela uma grande aliada da população. Além do coco, fornece o palmito, a capemba, as folhas de onde se extrai a palha e o talo, o tronco, que atendem diversas necessidades e permitem criar uma grande variedade de produtos fundamentais na vida cotidiana. Dentre eles o cofo, grande ícone do artesanato maranhense e usado para diferentes necessidades.

Mais de 800 artesãos, de diversas regiões, aqui registrados utilizam o babaçu em seus produtos, seja como material principal ou complementar.

PALHA

A palha e o olho da palha (ou palha do olho) são as partes mais utilizadas na confecção do artesanato, pois a partir dela se faz uma variedade notável de cestaria, além de esteiras e abanos. A diferença entre a palha e o olho da palha é que este último refere-se à parte central da palmeira, onde estão as folhas mais novas, que ainda não abriram. Essas folhas são mais flexíveis para os trançados, permitem uma trama mais fechada e alinhada do que a palha mais seca, que vem das folhas já abertas. A palha também é muito utiliza na cobertura das casas ou espaços de trabalho.

O cofo, a esteira, também conhecida como mensaba, e o abano, para fogo ou para juntar cisco nos quintais e terreiros, são os produtos da palha de babaçu mais frequentes de se encontrar. Todos eles possuem seus segredos de execução e nota-se a diferença quando tecidos por especialistas. 

O cofo 

O cofo é um cesto mais tradicional da cultura material maranhense. Possui muitas variações de acordo com o uso a que se destina. Variam formatos, tamanhos, tissumes/ trama e modos de tecer...

Acondicionamento, armazenamento, transporte, plantio são os usos principais. Muitos artesãos produzem em quantidade e mantém pequenos estoques para atender a procura, outros fazem por encomenda.

Nas comunidades o cofo não é comercializado, é dado pelo artesão aos vizinhos que necessitem ou trocado por farinha, peixe, vegetais, galinha, carvão...

Quando comercializado, é um produto barato, apesar de demandar tempo, conhecimento e habilidade para ser feito.

Nos Termos e Medidas Regionais, que está disponível neste portal estão explicadas muitas variações do cofo. A busca avançada por produto também mostra a diversidade já registrada. 

O tamanho do cofo em alguns casos se refere ao peso que suporta, como o cofo de alqueire, de meio alqueire, de quarta, usados principalmente no transporte de farinha. De modo geral, a medida usada para encomendar um cofo é o tamanho do talo da folha a ser utilizado, medido em palmos. O tamanho do talo equivale à circunferência da boca do cofo.

Para reforçar os cofos grandes que carregam peso maior, alguns artesãos estrovam o beiço/ boca, fazendo uma espécie de costura com embira.

O cofo é companheiro das quebradeiras de coco, muitas também o tecem. Recebe as amêndoas usadas na extração do óleo e também as casas destinadas à produção de carvão.

Os cofos pequenos são usados para o plantio de mudas, a colheita de feijão ou de frutos pequenos, o acondicionamento de sabão... São trabalhosos no acabamento.

A trança é apontada pelos artesãos como a parte mais difícil na execução do cofo. Ela dá resistência, permitindo o transporte produtos pesados.

Cofos pequenos ou usados para produtos leves podem ter a trança escondida/ interna.

O cofo de pescaria é levado à tiracolo ou amarrado na cintura nos formatos menores.

O cofo boca de jacaré é feito para acondicionar garrafa, poucos artesãos sabem fazer. Já o cofo de arco, que também não é muito comum de encontrar, é usado para transportar pequenos animais.

O cofo de quatro cantos e o cofo de cú trucido/ torcido têm o fundo diferente, sem trança e também são chamados de balaio. Em geral são peças pequenas e poucos artesãos costumam fazer.

O cofo de segredo é uma pequena joia do artesanato maranhense, feito para embalar uma surpresa, que pode ser um anel, uma chave, uma moeda, dinheiro, um ovo, uma maçã... Costumava ser usado nos leilões dos festejos e hoje é procurado como peça decorativa, que representa muito bem o bom design das embalagens populares. Em miniatura é usado em brincos, colares, chaveiros ou compondo cortinas.

Panacu, cofo ninho, cofa, morcego, panacofo, galinheiro...

São diversos os nomes da cesta que abriga a galinha para que possa chocar os ovos em segurança, usada suspensa, longe do chão. Em geral ela tem o formato triangular e é tecida como uma esteira com as pontas inferiores fechadas por uma trança. 

Uma variação do ninho de galinha é um pequeno cofo, que tem o fundo amassado, formando uma espécie de tigela, onde a galinha pode chocar.

Abanos

O abano pequeno é muito utilizado para manter o fogo e o grande para juntar cisco nos quintais e terreiros. O artesão costuma presentear os vizinhos com essa peça de grande utilidade, que aproveita sobras do talo empregado na cestaria.

Mensaba, esteira

Não faz muito tempo, a mensaba era usada como porta ou janela das casas de taipa, hoje esse uso é mais raro, mas a medida "para porta" ou "para janela" continua sendo uma referência. Muitos outros usos tem a mensaba. Ela está na montagem do jirau nos quintais; é usada para secar ao sol o peixe, a farinha e outros produtos; para sentar; para quebrar o sol nas varandas... É uma peça trabalhosa, em geral tecida com o artesão sentado no chão.

Boi de cofo

O boi de cofo é utilizado em algumas brincadeiras, principalmente na região de Cururupu. Costuma ser pintado, revestido ou decorado e são poucos os artesãos que sabem fazer.  

No Bumba Meu Boi, a palha do babaçu também é utilizada na forração do boi e na chamada mala do Cazumba (personagem do Boi  de sotaque da Baixada), que é amarrada na cintura sobre os quadris, servindo para guardar pertences, para abrir a bata aumentando a personagem e mostrando os desenhos do bordado e, principalmente, para produzir um gingado jocoso. Em geral a mala é revestida com material que proteja a palha do suor.

Decoração

Flores, arranjos, vasos e uma grande variedade de peças decorativas utilizam a palha do babaçu.

Brinquedos

Brinquedos de palha seguem divertindo as crianças: pássaros, chifre de carneiro, relógio, anel, estrela, caga na praia, camarão...

Chapéu

Com a palha também se faz chapéu, mas são poucos os artesãos que produzem.

COCO

O coco inteiro é utilizado em peças decorativas como bonecos, animais, arranjos. Após a extração das amêndoas, dá origem a pequenas taças e canecas. As cascas compõem objetos de decoração. Fatiado, é utilizado em bijuterias, cintos e cortinas.

CAPEMBA

Na palmeira adulta, a capemba é a parte que protege o cacho de coco e caiu quando ele já está formado. Ela é utilizada como recipiente para alimentar animais, mas também para compor arranjos decorativos ou como suporte para pintura decorativa. 

TALO

O talo do babaçu - braço das folhas mais largas - é utilizado principalmente em armadilhas de pesca como o jiquí, o matapí, a gaiola, o cacurí e o curral. Também é empregado em pequenos móveis, em suportes para plantas e como arco de peneiras e quibanes.

O talo da parte central das folhas menores, descascado e cortado em varetas finas, tem uso em algumas armadilhas de pesca, na armação de pipas, em vassouras e como "recheio" da cestaria de palha de tucum que utiliza a técnica trançado costurado.

TALA

A tala de babaçu - extraída da casca do talo - aparece em algumas regiões no trançado de peneiras, quibanes e tapitis, mas o uso é menos frequente e somente em peças pequenas, pois é menos resistente do que materiais como guarimã e taboca. Em geral são peças de uso na cozinha como peneirinhas de coar leite de coco, de coar puba, quibane de ventejar e tapiti para extrair vinho de frutas...

CHINCHO/ CARANÃ/ FIAMPO/ BARBANTE

O palmito é encontrado na área central da palmeira jovem - de onde saem as folhas e serve de alimento para o gado. A capemba que o envolve, quando cai, é deixada apodrecer para que se possa extrair a fibra, chamada de chincho/ caranã/ fiampo, que é semelhante à piaçava.

O chincho é muito utilizado para fazer vassouras (ver o texto sobre as Vassouras) e como barbante para amarrar armadilhas de pesca. Seu uso também foi registrado na confecção de chinelos.