Implemento
utilizado cotidianamente para varrer, escovar ou esfregar áreas internas e
externas, as vassouras, espanadores e vasculhadores ou vasculhantes (de cabo
comprido, usados para varrer teto ou telhas) destacam-se na produção artesanal
do Maranhão por serem produzidas na maioria das cidades (mais precisamente em 80%
delas), pela diversidade de materiais utilizados e também pela estética, muitas
delas recebem pequenos detalhes que tornam bonitos esses objetos tão
corriqueiros e mostram capricho dos artesãos.
Dependendo da
finalidade e do material de confecção as vassouras podem ter cerdas duras,
macias, longas ou curtas. Os cabos, que também variam de tamanho de acordo com
a finalidade, são geralmente de madeira linheira (bem reta) extraída nas
proximidades das áreas de produção ou vinda de fora no caso de produção em
maior escala, a taboca também é utilizada. Em muitos casos as vassouras são
vendidas sem o cabo e facilmente encaixáveis em um cabo pré-existente, que tem
vida mais longa do que as cerdas. Os vasculhadores, além do cabo longo, têm
tamanho maior que as vassouras e suas cerdas são desalinhadas. Já os
espanadores costumam ser menores que as vassouras e ter cerdas mais macias. As
belas vassourinhas foram encontradas em palha de carnaúba e em linho de buriti
(a fibra mais fina da extraída da folha da palmeira), costumam ter em torno de
20 cm e são usadas em móveis ou para limpar a mesa de refeição.
As vassouras
ou bassouras são vendidas por unidade, par, meia dúzia, dúzia e fardos com cinquenta
ou cem unidades.
Os diversos
tipos de vassouras são produzidos tanto por mulheres como por homens, que
dominam todas as etapas da produção: a extração do material, o beneficiamento
(corte, descascagem, secagem, desfiação, corte etc.), montagem, amarração ou
costura, corte de alinhamento das cerdas, encabamento. Grande parte dos
artesãos e artesãos realiza só todas as etapas de confecção. É comum encontrar
a produção feita por casais ou famílias.
Os
acabamentos das vassouras maranhenses chamam atenção, além da beleza, conferem
características locais às vassouras: diferentes costuras, uso de cores tingindo
a palha, trançados ou pequenos cestinhos contendo as cerdas. As costuras em
geral são feitas com material distinto: cordinhas, fios, cordões, barbante
sintético, talas de guarimã etc.
Os indígenas
guajajara e canela também produzem vassouras, utilizando principalmente a palha
de buriti e de tucum.
Há povoados que
são especializados na produção de vassouras com diversos artesãos dedicados a
essa produção. As vendas são feitas para outras regiões maranhenses, para o Piauí
e o Ceará. Nesses locais a vassoura é a principal fonte de renda dos artesãos.
Em muitos casos a produção envolve diversos membros da família, com uma divisão
de tarefas entre extração do material e a confecção.
As vassouras
mais presentes no Maranhão são as confeccionas com a palha das palmeiras,
principalmente da carnaúba e do babaçu, mas também do buriti, da juçara e do
tucum.
Há também as
vassouras rústicas feitas com galhos de arbusto conhecido por relógio, bastante
utilizadas para limpar ambientes de festejos e quintais.
Algumas
vassouras têm uso exclusivo para determinadas ações como é o caso de exemplares
feitos aqui e agora para com galhos de folhas verdes da planta mais próxima
para a retirada da brasa de fornos onde serão assados bolos ou carnes em
festejos.
CARNAÚBA
A carnaúba é
o material mais utilizado para confeccionar vassouras no Maranhão. São produzidas em maior escala, inclusive para venda em atacado, e estão presentes em 33% dos municípios que já foram mapeados.
Da folha da carnaubeira são
utilizadas tanto a palha, como o linho, que é a fibra mais fina extraída da folha
antes de sua secagem.
Há povoados
especializados na produção de vassouras de carnaúba, que representa a principal
fonte de renda das famílias. Até o momento foram identificados três:
Boa Vista (Santo Amaro do Maranhão)
Situado em meio a
um vasto carnaubal, o povoado é conhecido pelo artesanato da carnaúba de modo
geral. As vassouras são produzidas em maior escala e vendidas em fardos de até
100 unidades para outras regiões do estado, para o Piauí e para o Ceará. A
extração descontrolada, realizada por forasteiros em busca do pó das folhas da
carnaubeira, representa uma ameaça aos artesãos, com o escasseamento da
matéria-prima grandemente desperdiçada na extração do pó em escala.
Jussatuba (Anajatuba)
A produção de vassouras no povoado envolve algumas
famílias e constitui a principal fonte de renda para elas. As vassouras de Anajatuba tem uma bela costura feita
com a própria palha da carnaúba.
Nova Olinda (Brejo)
O povoado é maior produtor de vassouras do Baixo
Parnaíba, vende para toda a região e para o Piauí.
As vassouras
de carnaúba também são produzidas em Água Doce do Maranhão, Araioses,
Arari, Bacurituba, Barão de Grajaú, Buriti, Buriticupu, Cajapió, Caxias, Codó,
Itapecuru Mirim, Magalhães de Almeida, Milagres do Maranhão, Paraibano, Paulino
Neves, Primeira Cruz, Santa Quitéria (linho e palha), Santana do Maranhão, São
Bernardo, São Francisco do Maranhão, Sucupira do Riachão, Timon e Tutóia (linho
e palha).
BABAÇU
Do babaçu
são feitas vassouras do talo da folha, da palha e, principalmente, do chincho,
que é o segundo material mais empregado na confecção de vassouras no Maranhão. As vassouras de chincho foram encontradas em 27% das
cidades já visitadas.
Vassouras de chincho/ caranã de babaçu
O chincho é um equivalente da piaçava, são os fiapos
extraídos da casca/ caçamba do palmito localizado na junção da folha com o
tronco, área do “coração da palmeira”. O palmito é usado para alimentar animais,
as cascas descartadas são aproveitadas para a extração dessa fibra, que é
penteada numa espécie de escova de pregos, separada em pequenos molhos e então
dobrada, amarrada e cortada, formando as vassouras.
O chincho
varia de nome conforme a região: caranã, barbante de palmito, embira de
palmito, embira de babaçu, barbante de babaçu.
Há
povoados especializados na produção de vassouras de chincho/ caranã em Peritoró e Palmeirândia.
Santa
Maria (Peritoró)
A família
Santos dedica-se à produção das vassouras em maior escala, que são vendidas
para Peritoró, Pedreira, Barra do Corda, Presidente Dutra e Teresina. As vassouras são amarradas com arame e encabadas com madeira (samonel ou mamuninha).
São
Raimundo (Palmeirândia)
A família
Cardoso faz as vassouras para venda na região.
As vassouras
de chincho também são feitas em Bacuri, Bacurituba, Bequimão, Buriti, Cajapió,
Central do Maranhão, Codó, Igarapé do Meio, Matinha, Monção, Olinda Nova do
Maranhão, Penalva, Pindaré Mirim, Pinheiro, Rosário, São Vicente Férrer,
Serrano do Maranhão e Viana.
Vassouras de talo de babaçu
As vassouras
produzidas com o talo da folha da palmeira babaçu cortado em tirinhas foram encontradas em Codó,
Itaipava do Grajaú, Palmeirândia e São Bento.
Da palmeira
babaçu também se utiliza a palha para a produção de vassouras, elas foram
encontradas em Buriti, Palmeirândia, Peritoró e Timon.
BURITI
As vassouras
de palha de buriti, também chamada borra (que é a sobra após a extração do
linho), são menos comuns, mas foram localizadas em Anapurus, Cedral, Fernando
Falcão, Guimarães, Mata Roma, Mirinzal, Paulino Neves, Porto Rico do Maranhão,
Santa Quitéria, Tutóia.
As
vassourinhas de linho de buriti, aparecem nos lugares em que é forte a produção
de outros produtos de linho (como toalhas, bolsas, chapéus etc.), já que são
feitas com as sobras desse material nobre, muitas vezes já tingido. As
vassourinhas são usadas para varrer móveis, mesa de refeição ou espanar
objetos. São produzidas principalmente em Alcântara (Santa Maria), Barreirinhas
(sede, Tapuio), Paulino Neves (sede) e Tutóia (Bezerro 1). Também foram
encontradas em Guimarães (Ceará) e Porto Rico
do Maranhão (Rabeca).
No leste maranhense
– nas cidades de Caxias, Codó e Timon – são produzidos vassourões com a ráquis
(talo central) de grandes folhas da palmeira buriti, utilizados na limpeza
pública das ruas.
JUÇARA
As vassouras
de palha da palmeira juçara são mais raras de se encontrar. Foram localizadas
apenas em Alcântara, Bequimão e Cedral.
TUCUM
As vassouras
de palha da palmeira tucum são produzidas em poucas cidades: Bacurituba, Barra
do Corda, Codó, Jenipapo dos Vieira, Peritoró.
Em Codó, o
artesão Lucivaldo Alves aprendeu com os indígenas um modo diferente de
execução: é feita uma de saia de palha, que é enrolada no cabo, produzindo um
belo acabamento.
CIPÓ
Nas regiões
dos rios Caru e Gurupi, fronteiriças com o Pará, destaca-se a produção de
vassouras de cipó, encontradas em principalmente em Amapá do Maranhão e Cândido Mendes, mas também encontradas em Carutapera, Boa Vista do Gurupi, Centro do Guilherme, Centro Novo do Maranhão, Godofredo
Viana, Governador Nunes Freire, Junco do Maranhão, Luís Domingues, Maracaçumé,
Maranhãozinho e Turiaçu. Fora dessa região foi identificada uma pequena
presença de vassouras de cipó apenas em Cururupu.
Esta forte
presença das vassouras de cipó (confeccionada em 21% das cidades já mapeadas) faz desse
material o terceiro mais empregado na produção desses artefatos de varrição.
As espécies de
cipó mais utilizadas são o timbó-açu, o timbó e o titica (mais claro). Foram
registrados também o uso do cipó guambé em Carutapera, que tem coloração mais
avermelhada; dos cipós japanduba, biriba e sapucaia em Junco do Maranhão; do
cipó jacitara em Luís Domingues e do cipó andirá em Maranhãozinho.
A grande parte das vassouras de cipó possuem um belo acabamento trançado, que muitos
artesãos chamam de caçuazinho, em alusão ao cesto grande de cipó.
TABOCA
A produção
de vassouras de taboca é mais rara, foi identificada em Cândido Mendes,
Jenipapo dos Vieira, São João dos Patos e Sucupira do Riachão, sendo comum nos
lugares em que se produz o jacá do mesmo material.
A taboca é
cortada no comprimento em oito partes e deixada murchar antes de ser dobrada
para confecção das vassouras.
COCO DA PRAIA
As vassouras
de coco da praia utilizam o fiapo/ barbante desfiado da casca do coco. A
produção foi identificada nas ilhas de São Lucas, Bate Vento e Caçacueira em
Cururupu.
GUARIMÃ
As vassouras
da tripa de guarimã, também chamada de entre casca, são feitas com a parte que costuma
ser descartada após ser separada da tala, esta usada em peneiras, tapitis,
paneiros e muitos outros produtos.
Este
aproveitamento da tripa, raro de se encontrar (e poderia ser disseminado nas
áreas de produção de artefatos de guarimã), foi identificado em Bacuri
(Madragoa), Cururupu (Maioba) e Santa Rita (São José Passanã).
SISAL
A produção
de vassouras de sisal foi identificada na sede de Matinha.
TITARA/ TITARRA
A titara é
uma planta trepadeira da família das palmeiras, muitas vezes confundida com
cipó. Na confecção das vassouras utiliza-se o tronco. As vassouras de titara
foram identificadas somente na sede de Alto Alegre do Pindaré.
GALHOS DE RELÓGIO
O arbusto
relógio é utilizado para confecção de vassouras rústicas para varrer quintais e
áreas externas. As vassouras de relógio foram encontradas em Anapurus (povoado
Centro dos Otília e sede) e Mata Roma (povoado Bacuri).
GARRAFA
PET
O
reaproveitamento de garrafas pet para a produção de vassouras foi identificado
nas sedes de Barra do Corda, Buriticupu, Codó, Matinha, Pinheiro e no povoado Soledade em Caxias. As garrafas são
lavadas e cortadas em equipamentos manuais criados pelos próprios artesãos.
Vassouras e
espanadores de materiais mais raros de se encontrar como carrapicho bravo (vegetação
rasteira), fios de saco de cebola e fita de arquear (fita plástica) foram
identificados no mapeamento.
O acervo de
vassouras adquirido ao longo do projeto MAPEARTE foi exibido na exposição Varrendo
(com curadoria de Paula Porta), realizada em parceria com o Centro Cultural
Vale Maranhão visando divulgar essa produção.