Artesanato do Maranhão

Destaques

Redes de dormir

Jandir Gonçalves e Paula Porta

As redes de dormir são destaque no artesanato maranhense. Sua produção é voltada para um consumo interno e regional, uma vez que a velha ¨tipoia¨ acompanha a alma maranhense, atravessando o tempo, do nascimento à morte.

Em sua força cultural a rede é acolhedora e toma o feitio de seu dono para relaxar o corpo. A rede, enquanto mobiliário para descanso, está presente no quarto de dormir, no terraço, na varanda, embaixo da árvore, na embarcação, em casas de romeiros, na rancharia e até dentro das águas em riachos de correnteza morna.

Vários itens são levados em consideração na escolha deste leito balanço. Antes de tudo, sua utilização, depois se é para dois ou quatro ¨mocotós¨, a resistência, a circulação de ar, o conforto, o peso, o volume e o material de confecção.

As partes integrantes de uma rede são descritos por seus fazedores como pano/ cama, cadilho/ cadil/ trança, mamucabo/ carié, punho, estorvo e varanda/ franja/ grade/ labirinto. Para ancorar/ armar a rede é necessário que a ¨escapa¨ ou escápula seja fixada à parede ou mourão, quando a casa tem telhado baixo é possível armar nos caibros. Quando armada em árvore no tempo da noite, é possível fazer pequena fogueira para aquecer e afugentar peçonhas e muriçocas, o velho mosquiteiro deve entrar em ação. Se a rede estiver curta para o espaço, usa-se cordas, se os punhos estiverem compridos usa-se a amarração ¨boca de lobo¨ para diminui-los.

Em qualquer das técnicas há uma diversidade de materiais utilizados: fio de algodão, barbante, linha, linho e palha de buriti, linho de carnaúba, linho e palha de tucum, palha de carrapicho, brim, retalho de tecido, cordão de nylon e, mais recentemente, materiais alternativos como lã, TNT, sacos plásticos de arroz ou café, fios dos sacos de ráfia, reutilização de fio de redes usadas, assim como a mistura de dois ou três materiais reaproveitados.

REDES DE TECELAGEM DE ALGODÃO

No mapeamento já realizado foram identificadas várias técnicas de fabricação, a maior parte delas faz uso dos teares de mesa/ horizontais e, principalmente, dos teares amazônicos/ verticais.

Dentre as que são confeccionadas em tear, destacam-se as redes batidas (tecelagem de batimento), as de ponto carreira (carreirinha), as olho de pombo e as chamadas arco de espada.

Tecelagem batido (tear horizontal)

As redes de tear horizontal são tecidas em geral pelos homens e em dupla, mas no povoado Caçoem, em São João dos Patos há um tear utilizado apenas por mulheres.

O povoado São Simão em Rosário já foi um grande produtor de redes de tecelagem de puro algodão. Embora essa produção venha desaparecendo, ainda há excelentes artesãos trabalhando com teares horizontais. Em Presidente Juscelino também persiste uma pequena produção feita em tear horizontal.

Tecelagem batido (tear vertical)

O município de São Bento é famoso por produzir redes no tear vertical utilizando a técnica do batido em muitas variações, que vão da tanga (batido simples, utiliza apenas um liço, pode ser lisa, xadrez ou listada) à tapuerana, muito elaborada e trabalhosa (requer dois liços), além da arco de espada, grega, fofa, aberta, balãozinho e avesso e direito, que também usam dois liços. As artesãs concentram-se no povoado Belas Águas e na sede.

As redes mais requerem duas artesãs para bater o tecido no tear vertical (uma rede infantil ou para animais pode ser batido por uma pessoa). Em São Bento são chamadas redeiras ou batideiras. O tear vertical é usado principalmente por mulheres.

Em Bequimão, no povoado Centro dos Câmara, são produzidas as redes de labirinto bastante elaboradas, que trazem desenhos (escudos de futebol ou outros) e também requerem duas pessoas para tecer.

São João dos Patos também é um núcleo de produção de redes, principalmente de tecido, também se destacam as redes de tear desenhadas tecidas em tiras e as varandas de grade de bilro preenchida e de crochê.

Tecelagem carreira (tear vertical)

Tecelagem indígena (tear vertical)

As redes produzidas pelos indígenas, especialmente as mulheres Guajajara, têm grande destaque pela qualidade e beleza das peças. São tecidas com entremeio de duas ou várias cores, formando desenhos geométricos e dupla face. Utilizam linha fina ou barbante de algodão, ponto carreira/ carreirinha e teares verticais. As artesãs guajajara também produzem a rede conhecida em outras regiões como jogo de dama, que apresenta quadrados coloridos lembrando um tabuleiro.

A produção de redes guajajara foi identificada até o momento em Arame (aldeias Angico Torto, Marajá, Zitiwa), em Barra do Corda (sede e aldeias Colônia e Mayra), em Bom Jesus das Selvas (Vila Brasilândia e nas aldeias Angelim, Icatu e Jenipapo), em Centro do Guilherme (aldeia Axinguirendá), em Itaipava do Grajaú (aldeia Juruá) e em Jenipapo dos Vieira (aldeia Boa Vista, Cajueiro Real, Coquinho, Mangueira, Criulir 2). Estão presentes também em outras cidades ainda não mapeadas.

REDES DE TECIDO

Há uma grande produção de redes que utilizam o tecido pronto, geralmente o brim. São chamadas de rede sol a sol em alusão ao nome de um dos tecidos mais utilizados. A confecção dessas redes envolve o desfiar das bordas do tecido para fazer as tranças/ cadilhos, a tecelagem do mamucabo – realizada em um tipo de tear chamado de pente, o acréscimo do punho (muitas vezes comprado pronto) e a aplicação da varanda.

TECELAGEM DE LINHO DE BURITI, TUCUM E CARNAÚBA (TEAR VERTICAL)

A região dos Lençóis Maranhenses tem as redes como um dos destaques de seu artesanato. Ali, o linho do buriti e da carnaúba são os materiais predominantes, utilizados principalmente no tear vertical (batimento e carreirinha/ carreira), mas também nas tranças e cordinhas (três malhas). É bastante conhecida a “rede tucum”, feita em tear utilizando o ponto carreira e que pode utilizar a palha ou linho do tucunzeiro ou da carnaubeira na sua confecção. A palha é utilizada natural ou tingida com corantes naturais ou industrializados, possibilitando qualquer combinação

REDES DE TRANÇA, TRANÇADAS, TRÊS MALHAS

As redes de trança são bastante presentes nas casas maranhenses, usadas em salas e varandas. São chamadas também de rede de três malhas ou rede trançada. Além das fibras naturais, são feitas com retalhos de tecidos, com sacos plásticos de arroz, feijão, café cortados, com fios de sacos da ráfia desmanchados... A mistura desses materiais também produz belas peças.

As redes de tucum podem ser de trança lisa ou cabeluda. Uma variação da rede de três malhas é feita com cordinhas ao invés de tranças, unidas por nós.

São produzidas tanto por mulheres e homens e em diversas regiões do estado, aproveitando materiais locais.

Preparo do linho da carnaúba

Preparo da palha do tucum

VARANDAS (labirinto, bilro, crochê e macramê)

A maioria das redes é ornamentada com a varanda, também chamada de franja ou grade. Há varandas em crochê, macramê, labirinto ou renda de bilro, de diferentes tamanhos, de simples a muito elaboradas. Algumas artesãs dedicam-se somente a esta parte da rede.

Outro ornamento completar são as pestanas ou franjinhas, que escondem a costura da varanda na rede ou simplesmente são costuradas nas bordas de redes sem varanda.

OUTRAS MAIS

As redes de cordão de nylon ou de fios de corda de nylon destorcida, tecidas com a técnica empregada nas redes de pesca ou a técnica de nozinho, são de produção mais recente e foram encontradas em Alto Alegre do Pindaré (Sede), Caxias (Queima Boca), Jenipapo dos Vieira (Pilões), Junco do Maranhão (Sede), Magalhães de Almeida (Sede), Santa Quitéria (Mata dos Fernandes), Timon (Coeb 2) e Vitória do Mearim (Sede).

Outras modalidades de rede que chamam a atenção no artesanato maranhense são as redes de macaco, redes de cachorro, redes de garimpeiro, redes de espera, redes para caminhão, redes para o espelho retrovisor de veículos, todas elas em tamanho reduzido e comumente feitas sob encomenda.

Redes de madeira para varanda foram encontradas nas sedes de Central do Maranhão, Centro do Guilherme, Santana do Maranhão e São Vicente Férrer.

Há artesãs e artesãos produzindo redes em diversos municípios. Em alguns há uma concentração maior de artesãos, destacando-se São Bento, Rosário, Araióses, Barão de Grajaú, Barreirinhas, Bequimão, Brejo, Jenipapo dos Vieira, Magalhães de Almeida, Paraibano, Paulino Neves, Presidente Juscelino, Primeira Cruz, Santana do Maranhão, Santo Amaro do Maranhão, São Bernardo, São João dos Patos e Tutóia. Além destes, foram identificados artesãos de rede em outros 34 municípios.

Vale conhecer a diversidade dessa produção!