As redes de dormir são destaque no
artesanato maranhense. Sua produção é voltada para um consumo interno e
regional, uma vez que a velha ¨tipoia¨ acompanha a alma maranhense,
atravessando o tempo, do nascimento à morte.
Em sua força cultural a rede é
acolhedora e toma o feitio de seu dono para relaxar o corpo. A rede, enquanto
mobiliário para descanso, está presente no quarto de dormir, no terraço, na
varanda, embaixo da árvore, na embarcação, em casas de romeiros, na rancharia e
até dentro das águas em riachos de correnteza morna.
Vários itens são levados em
consideração na escolha deste leito balanço. Antes de tudo, sua utilização,
depois se é para dois ou quatro ¨mocotós¨, a resistência, a circulação de ar, o
conforto, o peso, o volume e o material de confecção.
As partes integrantes de uma rede
são descritos por seus fazedores como pano/ cama, cadilho/ cadil/ trança,
mamucabo/ carié, punho, estorvo e varanda/ franja/ grade/ labirinto. Para
ancorar/ armar a rede é necessário que a ¨escapa¨ ou escápula seja fixada à
parede ou mourão, quando a casa tem telhado baixo é possível armar nos caibros.
Quando armada em árvore no tempo da noite, é possível fazer pequena fogueira
para aquecer e afugentar peçonhas e muriçocas, o velho mosquiteiro deve entrar
em ação. Se a rede estiver curta para o espaço, usa-se cordas, se os punhos
estiverem compridos usa-se a amarração ¨boca de lobo¨ para diminui-los.
Em qualquer das técnicas há uma
diversidade de materiais utilizados: fio de algodão, barbante, linha, linho e palha de buriti,
linho de carnaúba, linho e palha de tucum, palha de carrapicho, brim, retalho de tecido, cordão de nylon e, mais recentemente, materiais alternativos como lã, TNT, sacos
plásticos de arroz ou café, fios dos sacos de ráfia, reutilização
de fio de redes usadas, assim como a mistura de dois ou três materiais
reaproveitados.
REDES
DE TECELAGEM DE ALGODÃO
No mapeamento já realizado foram
identificadas várias técnicas de fabricação, a maior parte delas faz uso dos
teares de mesa/ horizontais e, principalmente, dos teares amazônicos/
verticais.
Dentre as que são confeccionadas
em tear, destacam-se as redes batidas (tecelagem de batimento), as de ponto
carreira (carreirinha), as olho de pombo e as chamadas arco de espada.
Tecelagem batido (tear
horizontal)
As redes de tear horizontal são
tecidas em geral pelos homens e em dupla, mas no povoado Caçoem, em São João
dos Patos há um tear utilizado apenas por mulheres.
O povoado São Simão em Rosário já
foi um grande produtor de redes de tecelagem de puro algodão. Embora essa
produção venha desaparecendo, ainda há excelentes artesãos trabalhando com
teares horizontais. Em Presidente Juscelino também persiste uma pequena
produção feita em tear horizontal.
Tecelagem batido (tear vertical)
O município de São Bento é famoso
por produzir redes no tear vertical utilizando a técnica do batido em muitas
variações, que vão da tanga (batido simples, utiliza apenas um liço, pode ser
lisa, xadrez ou listada) à tapuerana, muito elaborada e trabalhosa (requer dois
liços), além da arco de espada, grega, fofa, aberta, balãozinho e avesso e
direito, que também usam dois liços. As artesãs concentram-se no povoado Belas
Águas e na sede.
As redes mais requerem duas
artesãs para bater o tecido no tear vertical (uma rede infantil ou para animais
pode ser batido por uma pessoa). Em São Bento são chamadas redeiras ou
batideiras. O tear vertical é usado principalmente por mulheres.
Em Bequimão, no povoado Centro
dos Câmara, são produzidas as redes de labirinto bastante elaboradas, que
trazem desenhos (escudos de futebol ou outros) e também requerem duas pessoas
para tecer.
São João dos Patos também é um
núcleo de produção de redes, principalmente de tecido, também se destacam as
redes de tear desenhadas tecidas em tiras e as varandas de grade de bilro
preenchida e de crochê.
Tecelagem carreira (tear
vertical)
Tecelagem indígena (tear
vertical)
As redes produzidas pelos
indígenas, especialmente as mulheres Guajajara, têm grande destaque pela
qualidade e beleza das peças. São tecidas com entremeio de duas ou várias
cores, formando desenhos geométricos e dupla face. Utilizam linha fina ou
barbante de algodão, ponto carreira/ carreirinha e teares verticais. As artesãs
guajajara também produzem a rede conhecida em outras regiões como jogo de dama,
que apresenta quadrados coloridos lembrando um tabuleiro.
A produção de redes guajajara foi
identificada até o momento em Arame (aldeias Angico Torto, Marajá, Zitiwa), em
Barra do Corda (sede e aldeias Colônia e Mayra), em Bom Jesus das Selvas (Vila
Brasilândia e nas aldeias Angelim, Icatu e Jenipapo), em Centro do Guilherme
(aldeia Axinguirendá), em Itaipava do Grajaú (aldeia Juruá) e em Jenipapo dos
Vieira (aldeia Boa Vista, Cajueiro Real, Coquinho, Mangueira, Criulir 2). Estão
presentes também em outras cidades ainda não mapeadas.
REDES
DE TECIDO
Há uma grande produção de redes
que utilizam o tecido pronto, geralmente o brim. São chamadas de rede sol a sol
em alusão ao nome de um dos tecidos mais utilizados. A confecção dessas redes
envolve o desfiar das bordas do tecido para fazer as tranças/ cadilhos, a
tecelagem do mamucabo – realizada em um tipo de tear chamado de pente, o
acréscimo do punho (muitas vezes comprado pronto) e a aplicação da varanda.
TECELAGEM DE LINHO DE BURITI, TUCUM E CARNAÚBA (TEAR VERTICAL)
A região dos Lençóis Maranhenses
tem as redes como um dos destaques de seu artesanato. Ali, o linho do buriti e da
carnaúba são os materiais predominantes, utilizados principalmente no tear
vertical (batimento e carreirinha/ carreira), mas também nas tranças e cordinhas
(três malhas). É bastante conhecida a “rede tucum”, feita em tear utilizando o ponto
carreira e que pode utilizar a palha ou linho do tucunzeiro ou da carnaubeira
na sua confecção. A palha é utilizada natural ou tingida com corantes naturais
ou industrializados, possibilitando qualquer combinação
REDES DE TRANÇA, TRANÇADAS, TRÊS MALHAS
As redes de trança são bastante presentes nas casas
maranhenses, usadas em salas e varandas. São chamadas também de rede de três
malhas ou rede trançada. Além das fibras naturais, são feitas com retalhos de
tecidos, com sacos plásticos de arroz, feijão, café cortados, com fios de sacos
da ráfia desmanchados... A mistura desses materiais também produz belas peças.
As redes de tucum podem ser de trança lisa ou cabeluda. Uma
variação da rede de três malhas é feita com cordinhas ao invés de tranças,
unidas por nós.
São produzidas tanto por mulheres e homens e em diversas
regiões do estado, aproveitando materiais locais.
Preparo do linho da carnaúba
Preparo da palha do tucum
VARANDAS (labirinto, bilro, crochê e macramê)
A maioria das redes é ornamentada
com a varanda, também chamada de franja ou grade. Há varandas em crochê, macramê,
labirinto ou renda de bilro, de diferentes tamanhos, de simples a muito
elaboradas. Algumas artesãs dedicam-se somente a esta parte da rede.
Outro ornamento completar são as
pestanas ou franjinhas, que escondem a costura da varanda na rede ou simplesmente
são costuradas nas bordas de redes sem varanda.
OUTRAS
MAIS
As redes de cordão de nylon ou de
fios de corda de nylon destorcida, tecidas com a técnica empregada nas redes de
pesca ou a técnica de nozinho, são de produção mais recente e foram encontradas
em Alto Alegre do Pindaré (Sede), Caxias (Queima Boca), Jenipapo dos Vieira
(Pilões), Junco do Maranhão (Sede), Magalhães de Almeida (Sede), Santa Quitéria
(Mata dos Fernandes), Timon (Coeb 2) e Vitória do Mearim (Sede).
Outras modalidades de rede que
chamam a atenção no artesanato maranhense são as redes de macaco, redes de
cachorro, redes de garimpeiro, redes de espera, redes para caminhão, redes para
o espelho retrovisor de veículos, todas elas em tamanho reduzido e comumente
feitas sob encomenda.
Redes de madeira para varanda
foram encontradas nas sedes de Central do Maranhão, Centro do Guilherme,
Santana do Maranhão e São Vicente Férrer.
Há artesãs e artesãos produzindo redes em diversos municípios. Em alguns há uma concentração maior de artesãos, destacando-se São Bento, Rosário, Araióses, Barão de Grajaú, Barreirinhas, Bequimão,
Brejo, Jenipapo dos Vieira, Magalhães de Almeida, Paraibano, Paulino Neves, Presidente
Juscelino, Primeira Cruz, Santana do Maranhão, Santo Amaro do Maranhão, São
Bernardo, São João dos Patos e Tutóia. Além destes, foram identificados artesãos de
rede em outros 34 municípios.
Vale conhecer a diversidade dessa produção!