A farta presença das águas no Maranhão – entre mar, rios e lagos – explica a grande diversidade de embarcações
tradicionais criadas e produzidas no estado, considerada por muitos a maior do
planeta. A produção de miniaturas de embarcações reproduz essa diversidade e as variações regionais.
Dentre as embarcações típicas destacam-se, pela maior presença, a canoa costeira - também
conhecida como cúter ou cara chata; o bote, a biana, o iate, a lancha, a canoa
boca larga, a taroa (catamarã e trimarã) e o bastardo (boião). Presentes no ambiente
salgado, há também a camaroeira, a esfola, o jangado. E uma série de outras
embarcações específicas do salobro, das águas doces lacustres e fluviais, como
a canoa de um pau, também chamada de ubá/ coxo, casco, casquinho; a canoa de
três tábuas, a canoa de cinco tábuas, a canoa de sete tábuas, a gambarra.
Também estão presentes em território maranhense embarcações características do Pará, do Ceará ou de outras
regiões como navio, escuna, jangada, voadeira, veleiro. A especialização e
excelência dos carpinteiros navais maranhenses é reconhecida, produzem para clientes
dentro e fora do país.
A grande presença
das águas no cotidiano dos maranhenses e de habilidosos carpinteiros
navais favorece a produção das miniaturas de embarcações.
Diferentes
motivos levam à produção dessas miniaturas. O principal deles é lúdico, adultos
e crianças brincam com elas quando as águas estão propícias, organizando
corridas. A relevância dessa brincadeira pode ser atestada pelas corridas e pófias/apostas que ocorrem durante a Regata da Independência na praia do Outeiro, em Cedral, que reúnem
muitos participantes.
As
miniaturas também aparecem em festividades de São Pedro, São Sebastião, São
José, Bom Jesus dos Navegantes (em Repartição, Brejo), são usadas nos andores
que levam os santos, como ex-votos para pagamento de promessas, como joias nos
leilões presentes nesses festejos, como barquinho de procissão.
Muitas miniaturas destacam-se por incluírem detalhes tecnológicos como
bita, giba, pau da giba, béquer, leme, pique, retranca, mastro, mastaréu,
malhete, insalsa, blandais, estais, bolacho, verga, escolta, cruzeta, linha d´água,
cadarço, cabeço, grinalda, moitão, espicha, gemoa. Esses detalhes, além da
fidelidade de formas e proporções, conferem às peças o caráter de modelismo.
Há também
uma produção de miniaturas voltada para a decoração e para lembranças de viagem,
comercializadas principalmente em São Luís, nas festas, nas feiras e em lojas
de artesanato.
Adultos e
também crianças produzem miniaturas e brincam com elas nas águas doces ou
salgadas. As embarcações destinadas para corrida podem ser à vela ou conter um pequeno
motor.
O tamanho
das miniaturas já encontradas vai de 10 cm a 150 cm.
Para
confecção das miniaturas, os artesãos utilizam principalmente as madeiras
disponíveis na região, sendo a paparaúba a mais comum. Cajueiro, cajá, pau
brasil, maçaranduba, visgueiro, cortiça, cedro, pente de macaco, tamboril, sumaúma, jamelina também são utilizadas com frequência.
Depois da
madeira, o material que se destaca é o talo/ braço/ pecíolo do buriti, material leve e flutuante, fartamente presente em algumas regiões e que é
usado ao natural ou lixado e masseado para acabamento mais detalhado.
O isopor é o
terceiro material mais encontrado, em geral é empregado nas embarcações destinadas
a corridas e outras brincadeiras. Mais raros, foram encontrados também
materiais como raiz de araticum, capemba de coco macho e palitos (de fósforo,
de picolé, de churrasco).
A produção
de miniaturas de embarcações foi identificada em 51% dos municípios já mapeados.
Mais de 200 artesãos produzem algum tipo de embarcação. Raras são as mulheres
que se dedicam às miniaturas, predominam os homens.
A região que
mais produz miniaturas de todos os tipos e para todas as
finalidades é o Litoral Ocidental, a faixa que vai de Alcântara até Carutapera
concentra grande número de artesãos e também de carpinteiros navais. Em
seguida, com número bem menor de artesãos vem a Baixada Maranhense, depois o
Litoral Oriental (de Icatu a Tutóia) e a região do Munim. Foram
encontrados artesãos de embarcações em 46 municípios.
Litoral Ocidental e Gurupi
Em Cururupu
foi encontrado o maior número de produtores de miniaturas de embarcações. São
21 artesãos, a maior parte deles estabelecida na sede, mas presentes também em
oito povoados e ilhas. Em seguida, vem os municípios de Cedral, Turiaçu, Porto Rico do Maranhão, Apicum
Açu, Cândido Mendes e Carutapera. Em menor número há artesãos de miniaturas em Alcântara,
Bequimão, Guimarães, Luís Domingues, Godofredo Viana, Maracaçumé, Maranhãozinho
e Amapá do Maranhão.
Cururupu
Em Cedral foram identificados 16 artesãos que produzem peças
em madeira, talo de buriti e isopor. O povoado Pericaua reúne a maior parte dos
artesãos de miniaturas, muitos deles são carpinteiros navais. No povoado
Outeiro, a Regata é realizada há mais de trinta anos e movimenta o setor de
embarcações. Também há artesãos nos povoados Maranhão
Novo e Paraty.
O município de
Turiaçu também é forte na produção de embarcações, foram encontrados 16
artesãos que produzem miniaturas na Ilha
de Santa Bárbara, no Porto Santo, na Praia de Cunhã Coema e na sede.
Em Porto Rico
do Maranhão foram encontrados 11 artesãos de miniaturas, entre a sede e os povoados Cateua e Rio Grande.
Apicum-Açu é
outro centro de produção de embarcações e de miniaturas de embarcações. Foram encontrados
11 artesãos em atividade na sede e nos povoados Caruaru e Turirana.
Em Cândido
Mendes foram localizados 10 artesãos, a maioria utiliza madeira, alguns o talo
de buriti e poucos o isopor. O povoado Estandarte é um núcleo de produção de
embarcações e de artefatos náuticos, também há artesãos em Centro do Jota, São José do Português e na
sede.
Carutapera também
reúne grandes modelistas navais, que trabalham principalmente com a madeira,
estabelecidos na sede e nos povoados
Praia de São Pedro e Ilha de Fora.
Em Godofredo
Viana as miniaturas são feitas em madeira.
Em Guimarães os artesãos produzem as miniaturas utilizando o
talo/ braço do buriti.
Alcântara é
um reconhecido centro de carpintaria naval, que produz embarcações para todo o
país e também para fora. A sede e o povoado São João de Cortes são núcleos de
produção que reúnem vários carpinteiros navais, alguns também produzem
miniaturas das embarcações. Além dos carpinteiros navais, há outros artesãos que
têm as miniaturas como especialidade.
Baixada
Maranhense
Na Baixada
Maranhense foram encontrados artesãos de miniaturas em Bacurituba (Beira de
Costa), Arari (sede), Igarapé do meio (Laje Comprida), Matinha (sede), Monção
(Santa Rita), Penalva (sede), Pinheiro (sede), São Bento (sede), São João Batista (sede) e Vitória do Mearim (sede).
Litoral
Oriental
No litoral
oriental trabalham com miniaturas artesãos de Icatu (sede, Baiacuí, Pedro
Gonçalves, Salgado, Santa Maria de Guaxenduba), Humberto de Campos (sede,
Periá), Primeira Cruz (sede, Ilha Areinhas), Barreirinhas (sede, Marcelino), Santo
Amaro do Maranhão (Betânia, Boa Vista), Paulino Neves (sede) e Tutóia (sede,
Barro Duro, Bom Gosto).
Munim
Na região do
rio Munim há artesãos de miniaturas em Axixá (Cedro, Iguaperiba, Sapucaia),
Icatu (sede, Caiacuí, Salgado), Morros (sede, Pacas do Maçal), Presidente
Juscelino (sede, Juçaral dos Pretos, Vila Nova) e Rosário (Pirangi 1, São
Miguel).
Outras
regiões
Foram encontrados artesãos dedicados
às miniaturas também em Pindaré Mirim (sede), Santa Inês (sede), Caxias (Buriti
do Meio, sede), Barão de Grajaú (sede), Jenipapo dos Vieira (Aldeia El Betel), Magalhães
de Almeida (sede), Buriti (sede), Milagres do Maranhão (Patos), Santana do Maranhão
(São Gonçalo) e São Bernardo (Nova Esperança, sede).